A reciclagem animal é uma grande aliada do agronegócio brasileiro. Todos os anos, cerca de 14 milhões de toneladas de resíduos do abate são transformados em farinhas e gorduras com alto valor nutricional para aves, suínos, peixes e até cães e gatos. O resultado é uma produção mais sustentável, econômica e eficiente, com redução de até 5% no custo da ração.
Mas os benefícios vão além da economia. A reciclagem reduz o desperdício, evita a contaminação ambiental, economiza água, substitui minerais não renováveis e ainda gera biocombustíveis, como o biodiesel.
“É bom para os animais, para o bolso do produtor e para o meio ambiente”, resume Pedro Bittar, presidente do Conselho Diretivo da ABRA – Associação Brasileira de Reciclagem Animal.
Em entrevista ao Interligados, Pedro explicou como funciona essa cadeia, quais são os impactos positivos para a pecuária e por que o Brasil é líder nesse setor no mercado internacional.
Ingrediente estratégico para a ração animal
A inclusão de farinhas de origem animal na formulação de rações traz ganhos diretos para a nutrição e para o custo de produção.
“Esses ingredientes têm alta densidade nutricional, são ricos em proteínas de alta digestibilidade, fósforo, cálcio e outros minerais essenciais”, explica Pedro.
Com isso, reduz-se a necessidade de usar aditivos sintéticos, geralmente mais caros.
As farinhas mais comuns são: farinha de carne, de osso, de sangue, de penas, de vísceras e de peixe. Todas são aproveitadas pelas indústrias de ração, com exceção das destinadas a ruminantes, como bovinos.
“Além disso, o preço desses ingredientes é mais estável, diferente dos grãos que variam com o clima e o mercado internacional”, acrescenta Pedro.
Outro ponto importante é o impacto positivo no desempenho dos animais.
“A digestibilidade e o valor energético das farinhas contribuem para ganho de peso mais rápido e menor tempo de confinamento, o que representa economia de insumos e melhor eficiência zootécnica.”]
Brasil é destaque mundial em reciclagem animal
O Brasil se destaca como um dos maiores produtores e exportadores de farinhas e gorduras de origem animal do mundo. Atualmente, o país vende para mais de 60 países, incluindo mercados exigentes como Ásia, África, América Latina e Oriente Médio.
“Somos referência em qualidade sanitária, rastreabilidade e sustentabilidade. Quando houve o caso da gripe aviária no Rio Grande do Sul, o Brasil respondeu rapidamente e os mercados voltaram a confiar nas nossas exportações em menos de um mês”, lembra Pedro.
Além da confiança internacional, o setor conta com uma logística robusta e uma escala de produção que favorece a competitividade.
“Coletamos resíduos não só dos frigoríficos, mas também de açougues, mercados e feiras. Nada se perde. Tudo vira matéria-prima valiosa para a nutrição e para a indústria química e energética.”
Fechamento do ciclo e economia circular no campo
A reciclagem animal é pilar da bioeconomia circular. Isso significa transformar resíduos inevitáveis do abate, como sangue, vísceras e ossos, em novos insumos que voltam à cadeia produtiva. Pedro cita o exemplo do frango:
“O resíduo do abate volta para a fábrica de ração, alimenta o frango novamente, fechando o ciclo com eficiência.”
Além de ingredientes para a ração, o setor também produz gordura animal, usada na fabricação de sabões, produtos de limpeza e, principalmente, biodiesel.
“Cerca de 15% do biodiesel usado no Brasil é feito com essa gordura, o chamado sebo bovino”, afirma Pedro.
Parte desse material também é exportada, gerando renda e fortalecendo a economia nacional.
Outro destaque é o tratamento da água.
“Muita gente não sabe, mas nossas indústrias evaporam e reaproveitam a água presente nos tecidos dos animais, devolvendo-a limpa ao meio ambiente. Somos a única indústria que devolve água ao planeta”, completa.
Com tantos benefícios econômicos, ambientais e produtivos, a reciclagem animal mostra que é possível produzir com responsabilidade, reduzir desperdícios e gerar valor em toda a cadeia agropecuária.
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