Uma situação recorrente nas granjas de avicultura é encontrar aves com o papo estufado e endurecido. À primeira vista, pode parecer um simples excesso de alimento, mas o sintoma também pode indicar problemas de manejo ou até doenças mais sérias.
Segundo o pesquisador Luizinho Caron, da Embrapa Suínos e Aves, é essencial observar o comportamento das aves e a frequência do problema.
“Se for um caso isolado, pode ser algo individual, como uma paralisia ou ingestão exagerada de alimento fibroso. Mas se houver muitas aves com o mesmo quadro, acende-se um alerta para algo mais grave”, explica.
O papo distendido dificulta a passagem do alimento para as outras partes do sistema digestivo, como o proventrículo e a moela. Isso pode até fazer a digestão parar completamente.
Alimentação inadequada e jejum prolongado são fatores de risco
Em lotes maiores, o principal motivo geralmente é a sobrecarga alimentar. Já em situações de jejum prolongado, como falta de ração ou falhas no fornecimento, elas acabam comendo em excesso assim que o alimento volta a ser disponibilizado.
“O problema é agravado quando o alimento é seco e fibroso. Após a ingestão, ao tomar água, o volume no papo aumenta ainda mais, causando distensão e possível rompimento das fibras musculares”, alerta Luizinho.
Em criações de subsistência, a avaliação sensorial é uma ferramenta importante para identificar problemas digestivos nas aves. Apalpar o papo permite avaliar a consistência, temperatura e odores, como o cheiro de fermentação — sinais de que o alimento pode estar retido por tempo excessivo.
Ainda de acordo com o pesquisador, nesses casos é possível adotar soluções simples e eficazes. Uma delas é oferecer uma mistura de água morna com 20% a 30% de óleo diretamente no bico da ave, seguida de uma leve massagem no papo para estimular o esvaziamento.
Casos isolados não são preocupantes, mas doenças exigem intervenção
Embora seja mais comum por erro de manejo, o papo cheio pode ser sintoma de doenças como encefalomielite ou Newcastle, especialmente quando há outros sinais clínicos como mortalidade e sintomas respiratórios.
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“Se muitas aves apresentarem o mesmo sintoma, o produtor deve isolar os animais, observar a evolução e acionar um médico veterinário o quanto antes”, recomenda o pesquisador.
Ainda segundo Luizinho, doenças neuromotoras podem causar perda de controle do trato digestivo e exigem diagnóstico preciso.
Carne da ave pode ser consumida?
Quando a ave estiver com o papo permanentemente distendido e apresentar sinais de doença, não é seguro consumir a carne ou os ovos. O abate para consumo deve ocorrer apenas quando a ave estiver saudável.
“No abate industrial, aves com papo pendular são identificadas e eliminadas antes da linha de processamento, justamente por não atenderem aos critérios sanitários exigidos”, reforça Caron.
Boas práticas de manejo previnem problemas digestivos nas aves
Para evitar casos de papo inchado, o pesquisador da Embrapa recomenda:
- Evitar jejum prolongado: mantenha alimentação constante.
- Fracionar a ração após períodos sem alimento.
- Evitar rações secas e muito fibrosas, principalmente em ambientes com alta temperatura.
- Observar aves com sintomas persistentes e buscar orientação técnica.
Com atenção e cuidado, é possível prevenir prejuízos na produção e garantir o bem-estar das aves no aviário.
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