
A nova tarifa dos Estados Unidos sobre carnes brasileiras, anunciada no fim de julho, já está movimentando análises e preocupações no setor produtivo. A taxa adicional, que pode chegar a 50%, passou a valer a partir de 6 de agosto para uma série de alimentos, incluindo carne de frango, suína, bovina e até ovos. O objetivo da medida é estimular o consumo de produtos fabricados internamente no território norte-americano.
Mas será que essa tarifa realmente impacta o produtor rural brasileiro? Para responder essa pergunta, o Interligados conversou com o analista de mercado Fernando Iglesias, que trouxe uma visão detalhada sobre os efeitos práticos da decisão norte-americana.
Segundo ele, o impacto direto para os setores de avicultura e suinocultura de corte é bastante limitado.
“Os Estados Unidos compram muito pouco dessas proteínas do Brasil, praticamente nada. Então o efeito, nesse caso, é neutro”, afirmou.
Carne bovina sente mais os efeitos da tarifa
A grande preocupação, de fato, recai sobre a carne bovina. Os Estados Unidos eram o segundo maior comprador da proteína brasileira e, com a tarifa extra, a competitividade do produto nacional nesse mercado será reduzida. Isso já causou impactos internos, como a queda no preço da carne no atacado brasileiro nas últimas semanas.
Esse movimento, embora negativo para o boi gordo, pode redirecionar o consumo no mercado doméstico.
“Sempre que a carne bovina encarece ou recua muito de preço, há uma movimentação que afeta também a carne de frango e suína. O consumidor migra para opções mais baratas ou muda seus hábitos de consumo”, explicou Iglesias.
A expectativa é que, com a carne bovina encarecendo no segundo semestre, o consumo de frango, ovos e carne suína aumente dentro do Brasil, o que traria um fôlego ao mercado interno.
Gripe aviária pesa mais do que o tarifaço para as aves
Para a avicultura, o que pesa mais no momento não é a tarifa dos EUA, e sim os efeitos da influenza aviária de alta patogenicidade, que ainda afeta as exportações brasileiras. Apesar do controle do foco identificado no Rio Grande do Sul, mercados como China e União Europeia ainda não retomaram as compras, o que pressiona os preços e a logística do setor.
“Essa situação da gripe aviária é milhões de vezes mais impactante para a avicultura do que o tarifaço dos Estados Unidos”, reforçou o analista.
O Brasil continua sendo o maior exportador de carne de frango do mundo, seguido pelos próprios EUA. Em mercados como México, Oriente Médio e Ásia, a proteína brasileira segue em alta, abrindo espaço para novos negócios.
Exportações de ovos tendem a desacelerar
Nos últimos meses, os ovos brasileiros ganharam destaque nas exportações para os EUA devido à escassez interna causada pela gripe aviária naquele país. Agora, com a normalização do mercado e a tarifa adicional, essas exportações devem cair.
“A crise dos ovos nos EUA ficou para o primeiro trimestre. Agora, o foco lá é o alto custo da carne. O Brasil ainda exporta pouco ovo — apenas 1% da produção —, mas a tendência é que esse ritmo diminua”, comentou Iglesias.
Ainda assim, o mercado interno deve absorver essa produção, já que os ovos continuam sendo uma alternativa acessível para o consumidor.
Diplomacia será essencial para proteger o agro
Para Fernando Iglesias, o momento pede ação diplomática do governo brasileiro. Além do setor de carnes, outras cadeias produtivas foram afetadas pela tarifa, como as de pescados, frutas, cacau e café. Todas geram milhares de empregos e renda no país.
“O ideal agora é sentar à mesa com os Estados Unidos e negociar. Buscar acordos comerciais que preservem a competitividade do agro brasileiro é essencial”, defendeu.
Mesmo com os desafios, o Brasil segue firme no mercado global de proteínas. E com gestão estratégica, sanidade e diálogo, os produtores rurais brasileiros têm como se adaptar e seguir avançando.
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