A certificação halal é hoje um dos pilares da competitividade da avicultura brasileira no cenário global. O termo “halal”, que em árabe significa “lícito” ou “permitido”, define os produtos e processos que seguem as normas da lei islâmica (sharia). Na prática, o selo comprova que alimentos, cosméticos, medicamentos e outros bens respeitam princípios religiosos, sanitários e éticos exigidos por consumidores muçulmanos.
No caso das carnes, as exigências são rigorosas. O abate deve ser feito por um muçulmano treinado, com a recitação da bênção islâmica antes de cada animal, respeitando critérios de bem-estar e higiene. Além disso, toda a cadeia — da ração ao transporte — precisa evitar contaminações com substâncias proibidas, como carne suína, sangue ou álcool.
Essas normas não apenas garantem a conformidade religiosa, mas também reforçam padrões de qualidade e rastreabilidade que colocam o Brasil em destaque entre os maiores exportadores mundiais de proteína animal.
Procedimentos e exigências para o selo halal
A obtenção da certificação começa com a solicitação de auditoria a uma entidade halal reconhecida. O processo inclui avaliação detalhada de matérias-primas, equipamentos, fornecedores e instalações. Em alguns casos, as empresas precisam criar linhas de produção exclusivas para evitar contaminação cruzada.
Os auditores, todos muçulmanos, inspecionam as etapas do processo, verificando condições sanitárias, conformidade com o bem-estar animal e cumprimento dos rituais religiosos. Somente após a aprovação completa o selo halal é concedido e pode ser impresso nas embalagens.
Além de abrir mercados, o certificado passou a ser sinônimo de qualidade. Países não islâmicos, como os da União Europeia e partes da Ásia, também reconhecem o halal como um padrão de segurança alimentar e ética produtiva.
Brasil, líder global na exportação halal
Desde 1975, o Brasil exporta carne halal e consolidou-se como principal fornecedor mundial de proteína para países árabes e muçulmanos. Dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) indicam que, em 2024, as exportações de carne de aves certificada chegaram a 2,29 milhões de toneladas, o equivalente a 43% do total exportado pelo país.
O valor movimentado ultrapassou 4,23 bilhões de dólares, com destaque para Emirados Árabes Unidos (455 mil toneladas), Arábia Saudita (370 mil), África do Sul (325 mil), Iraque (179 mil) e Singapura (141 mil). Além do Oriente Médio, mercados na Europa e Ásia também absorvem essa produção, impulsionados pelo crescimento das populações muçulmanas.
O desempenho reflete a solidez da cadeia produtiva nacional, que alia capacidade de abate, rastreabilidade e conformidade com exigências religiosas — fatores que mantêm o país como parceiro estratégico das maiores redes de varejo halal do planeta.
Perspectivas e oportunidades para o futuro
Com mais de 2 bilhões de muçulmanos no mundo, sendo 62% concentrados na Ásia-Pacífico, a tendência é de crescimento contínuo da demanda por produtos halal. No Brasil, estima-se que haja cerca de 1,5 milhão de consumidores muçulmanos, e as empresas do setor já começam a mirar também esse mercado interno.
Para sustentar o avanço, o desafio é tecnológico. O uso de sistemas de rastreabilidade, etiquetas com QR Code e transparência sobre origem e métodos de produção tornam-se diferenciais competitivos. A indústria avícola brasileira, reconhecida pela eficiência produtiva, tem condições de incorporar essas inovações e ampliar a confiança internacional.
Mais que um selo religioso, o halal representa um modelo de produção alinhado à ética, sustentabilidade e segurança alimentar. Nesse contexto, o Brasil segue como referência global — provando que a avicultura halal é, ao mesmo tempo, um negócio de fé, rigor técnico e oportunidade econômica.
*Ariel Antonio Mendes é médico-veterinário, presidente da Fundação de Apoio à Ciência e Tecnologia Avícolas (Facta) e da AgroExperts
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