POR ARIEL MENDES

Sucessão familiar, um desafio para os produtores de aves e suínos

Os jovens estão ficando ou retornando ao campo após a universidade ou tentativas de emprego e empreendedorismo

Sucessão familiar, um desafio para os produtores de aves e suínos

O Brasil apresenta sinais claros de que os jovens estão ficando na propriedade rural ou regressando após concluírem seus estudos universitários na cidade. Ou, ainda, voltando depois de tentarem empreender ou serem empregados em outras atividades.

Este cenário não ocorre na Europa nem nos Estados Unidos, onde a idade média gira em torno de 62 anos e 58 anos respectivamente. No Brasil, por sua vez, o agricultor tem cerca de 45 anos de idade, sendo que na nova fronteira agrícola  do  MATOPIBA (MA, TO, PI e BA) já é de apenas 35 anos.

No setor de aves e suínos, não temos levantamentos sobre o tema, mas existe uma tendência de que os filhos estão cada vez mais assumindo os negócios dos pais. 

Nota-se, também, uma presença cada vez maior de mulheres nessa atividade. A sucessão familiar deve ser cuidadosamente planejada, a fim de evitar insucessos e dissabores para os pais e demais familiares. Os principais pontos de atenção devem ser os seguintes:

Avicultura fortalece a conexão da família Cocenzo com o campo
Avicultura fortalece a conexão da família Cocenzo com o campo

A sucessão familiar é um processo e não um momento estanque. Nessa fase, a família deve reunir-se, de preferência, com a assessoria de um especialista, para definir o futuro da propriedade, a continuidade dos negócios e a governança. 

Várias gerações precisam ser envolvidas nesse processo: pais, avós, netos, genros e noras, ou seja, duas gerações por família, caso exista mais de uma família envolvida nos negócios. 

Torna-se necessário discutir os modelos de transmissão de posse, bem como a administração da empresa após a sucessão familiar. Quem será o responsável pela administração e quem fará parte do Conselho de Família, do Conselho de Administração e da Diretoria, deixando bem definido o papel e as competências de cada ente familiar envolvido com os negócios.

Quando a transmissão de bens é feita sem planejamento, por meio de inventário, no caso de falecimento, ocorre o pagamento do ITCMD (Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação), que varia de estado para estado, sendo atualmente de 4% em São Paulo, com tendência a aumentar no médio prazo. Isso pode levar à falta de recursos por parte dos herdeiros para o pagamento do imposto ou o comprometimento do fluxo de caixa da empresa. 

Quando se faz uma transmissão de posse planejada, pode-se escolher um modelo menos oneroso, como holding familiar, cotas sociais, outros tipos de impostos a serem pagos que não o ITCMD obrigatoriamente, como é o caso do ITD (Imposto Estadual, que incide sobre as transmissões causa mortis de quaisquer bens e direitos). Já que a legislação brasileira é muito complexa, é imprescindível buscar a assessoria de um advogado tributarista a fim de evitar discussões tributárias na justiça futuramente.

Definido o modelo de transmissão de posse, deve-se passar à fase de treinamento e preparação dos herdeiros sobre a gestão do negócio.

Para auxiliar neste processo de sucessão do produtor rural ou tirar dúvidas sobre questões sucessórias, a Integradora, Cooperativa ou Associação de Produtores pode contratar uma assessoria especializada para ministrar cursos de gestão estratégica, principalmente, para os herdeiros. 

Porém, cabe ressaltar que os pais devem participar em alguns momentos para relatar suas experiências e  para fazer um contraponto, uma vez que os jovens costumam ter ideias arrojadas e que muitas vezes não são compatíveis com as peculiaridades da produção animal e com os retornos propiciados pelo negócio avícola e suinícola. 

Gestão estratégica, ferramentas de gestão, custos de produção, legislação trabalhista, ambiental e sanitária, relacionamento familiar e outros tópicos devem fazer parte desses treinamentos sugeridos por estas instituições.

Está na hora de tratar dessa questão, pois o sucesso da avicultura e suinocultura brasileira se devem muito ao empreendedorismo e dedicação dos produtores integrados e cooperados.

Preparar as novas gerações é fundamental para manter essas atividades competitivas e rentáveis para as famílias dos produtores. 

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