Resistência antimicrobiana desafia produção animal e reforça papel da biosseguridade

Iniciativa global da OMSA alerta para uso responsável de antibióticos na pecuária e reforça importância da saúde única no campo

Resistência antimicrobiana desafia produção animal e reforça papel da biosseguridade

A resistência antimicrobiana é hoje um dos maiores desafios da saúde pública global — e no campo, ela também acende um alerta importante. O uso incorreto ou excessivo de antibióticos em animais pode tornar bactérias resistentes aos tratamentos disponíveis, colocando em risco não apenas a sanidade dos rebanhos, mas também a segurança dos alimentos que chegam à mesa do consumidor.

A Semana Mundial de Conscientização sobre a Resistência Antimicrobiana, promovida pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), começou na última segunda-feira (18) com apoio de governos, instituições científicas e entidades rurais em todo o mundo. No Brasil, a mobilização envolve especialmente os profissionais da medicina veterinária, que são os principais responsáveis por garantir o uso racional desses medicamentos nas granjas e propriedades.

Segundo a médica-veterinária Francisca Costa, do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), a resistência ocorre quando as bactérias desenvolvem capacidade de resistir aos princípios ativos dos antibióticos, impedindo a eficácia do tratamento. “Isso pode levar à piora do quadro clínico dos animais, aumento da mortalidade e risco de contaminação da cadeia alimentar”, alerta.

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Na produção de carne, leite, ovos e pescado, o uso de antimicrobianos pode ser necessário para tratar infecções, mas deve seguir critérios técnicos rigorosos. O uso responsável envolve prescrição veterinária, observação do período de carência (tempo necessário para eliminação do medicamento no organismo) e o cumprimento das boas práticas agropecuárias.

“Cada medicamento tem um tempo específico para ser eliminado do corpo do animal. Respeitar esse prazo evita que resíduos apareçam na carne, no leite ou nos ovos”, explica Francisca. Para isso, é fundamental o acompanhamento técnico do médico-veterinário em todas as etapas — do diagnóstico à administração e monitoramento dos tratamentos.

Além disso, o uso racional de antibióticos contribui para a sustentabilidade do sistema produtivo. Afinal, prevenir doenças sai mais barato e é mais eficaz do que tratar infecções em rebanhos já contaminados.

Um dos pilares da campanha é o conceito de “Saúde Única” — ou One Health, em inglês — que reconhece a interconexão entre a saúde humana, animal e ambiental. “O ser humano, os animais e o ambiente compartilham o mesmo espaço. Por isso, qualquer desequilíbrio em um desses pontos pode gerar impactos nos outros”, destaca Francisca.

A resistência antimicrobiana é um exemplo claro dessa interdependência. Se bactérias resistentes se espalham pelo ambiente ou entram na cadeia alimentar, podem comprometer tanto a saúde dos animais quanto a dos consumidores. Por isso, o cuidado com a sanidade começa nas porteiras das granjas, com medidas preventivas e protocolos bem definidos.

Na rotina da avicultura e suinocultura, a biosseguridade é uma das principais estratégias para evitar o uso excessivo de antibióticos. Entre as medidas recomendadas estão o controle de entrada e saída de pessoas e veículos, a gestão adequada de resíduos e dejetos, o controle de pragas, a vacinação preventiva e a manutenção da ambiência adequada.

Francisca reforça que a prevenção é sempre o melhor caminho. “Quando temos um bom controle sanitário, evitamos a entrada de patógenos nas granjas e, com isso, reduzimos a necessidade de tratamentos”, afirma.

Ela também lembra que a biosseguridade deve ser acompanhada de capacitação constante das equipes, garantindo que todos entendam a importância das práticas adotadas e o impacto direto que elas têm sobre a sanidade dos plantéis e a qualidade dos alimentos.

Por fim, o papel do médico-veterinário vai além da prescrição de medicamentos. Cabe a ele avaliar criteriosamente cada caso, optar por antimicrobianos somente quando necessário e acompanhar todo o tratamento. Também é sua responsabilidade treinar a equipe, fiscalizar o uso correto e assegurar o cumprimento das recomendações técnicas.

“É o veterinário quem decide o melhor princípio ativo, verifica a dosagem correta, o tempo de carência e garante que tudo seja feito com responsabilidade”, conclui Francisca.

Neste cenário, a valorização da ciência, a educação contínua e o compromisso com a saúde única são os caminhos para garantir que a pecuária brasileira siga produzindo com sanidade, segurança e responsabilidade.

*Sob supervisão de Luis Roberto Toledo

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