A economia circular na suinocultura está mudando a forma como o campo e a indústria lidam com os resíduos da produção. O que antes era visto como descarte, hoje é enxergado como oportunidade de reduzir custos, cuidar do meio ambiente e até gerar novas fontes de receita. O exemplo vem das granjas integradas da Seara, onde os biodigestores já são parte da rotina de dezenas de produtores.
Para entender melhor como essa transformação vem acontecendo, conversamos com Vamiré Sens, gerente executivo de sustentabilidade agropecuária da Seara. Segundo ele, o produtor que antes via os dejetos como um problema, hoje enxerga valor:
“O biodigestor virou uma estratégia de negócio. Gera energia elétrica, térmica e reduz custo de produção. Isso aumenta a margem do produtor”, explica.
A tecnologia aproveita os resíduos dos animais para produzir biogás, que pode ser usado para aquecer leitões, iluminar a granja ou até ser vendido. E mais: o processo também resulta em um biofertilizante rico em nutrientes, pronto para uso nas lavouras.
Produtor é peça-chave na sustentabilidade do sistema
Para que o biodigestor funcione bem, o papel do produtor é essencial. Ele precisa cuidar do equipamento como se fosse um “ser vivo”, alerta Vamiré. Isso inclui controlar o volume e a qualidade dos dejetos, garantir a manutenção do sistema e monitorar o aproveitamento do biogás.
A adoção da tecnologia depende de planejamento, escala e acesso a crédito rural. Mas o retorno vem em médio prazo.
“O produtor precisa buscar informações, montar um projeto adequado e acompanhar de perto o desempenho do biodigestor. Quando bem manejado, o resultado é sucesso garantido”, afirma.
Além de reduzir gastos com lenha, gás e energia elétrica, o produtor também se beneficia com a melhoria da qualidade do dejeto tratado. Esse biofertilizante tem maior aproveitamento pelas plantas, aumentando a produtividade das lavouras e fechando o ciclo da economia circular na propriedade.
Energia renovável e redução de emissões no campo
Segundo dados da própria Seara, mais de 100 granjas já utilizam biodigestores. Em algumas propriedades, a economia na conta de luz chega a 60%. Isso representa uma redução direta no custo de produção, que pode baixar em até 15%, aumentando a margem de lucro do produtor.
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O diferencial em relação à energia solar é a autonomia: enquanto os painéis fotovoltaicos só funcionam durante o dia, o biogás gerado pelos dejetos pode ser armazenado e usado a qualquer momento, inclusive nos horários de pico, quando a energia da rede é mais cara.
Além dos ganhos econômicos, há ganhos ambientais. O metano — gás 28 vezes mais poluente que o CO₂ — é capturado e transformado em energia. Isso evita emissões e melhora a biosseguridade das propriedades, reduzindo odores e impedindo o acesso de vetores aos resíduos.
Comunicação com o consumidor fortalece a cadeia
Mas não é só no campo que a economia circular traz impactos positivos. Vamiré destaca que o consumidor também ganha com a produção mais limpa e ética:
“Quem compra carne quer saber de onde vem o alimento e como ele foi produzido. O biodigestor ajuda a contar essa história com responsabilidade ambiental e social”.
Ele lembra que a tecnologia também contribui para melhorar a qualidade de vida no campo. Com mais margem, o produtor pode investir na propriedade, na família e no futuro dos filhos.
“É uma solução completa: cuida do planeta, melhora a produtividade e entrega ao consumidor um produto de qualidade, com preço justo e impacto ambiental reduzido”.
Por isso, comunicar esses avanços é fundamental. Mostrar que o alimento vem de um sistema sustentável fortalece toda a cadeia, aproxima o consumidor do campo e valoriza ainda mais o trabalho do produtor rural.
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